Há dias em que a dor me consome
São dias bons, estes de sofrimento...
Em que tudo o mais que habitava em mim, some.
E eu me permito, em dor, habitar o momento!
Ao que me parece, é mais fácil para os homens sofrer
Talvez por auto-piedade ou auto-penitência, não sei...
Mas a dor de alguma forma se parece mais justa que o prazer.
E é nessas horas que eu sinto muito, muito, muito, o simples ato de ser.
Mais certo seria, ou só parece que seria, se ao invés de viver a dor,
O Homem pudesse simplesmente viver.
Mas aí o que seria da arte? Da música ou da poesia?
O que seria do mar, não fosse o sal, colhido das lágrimas de Portugal?
O que seria da terra, sem a chuva que cai, cinzenta e triste?
Árida seria. e infértil, e sem frutos.
Talvez por isso meu Brasil seja uma terra que, em se plantando, tudo dá
Fruto da dor e do dissabor que esse povo amarga.
Talvez da labuta do dia-a-dia.
Surja uma centelha de vida divina
Talvez surja, de toda nossa agonia
A força de mais uma vez subir no ônibus, na esquina.
Quem sabe este ato de continuidade
Seja uma forma de lapidação da alma
Quem sabe desta lapidação com calma,
é que nasça a verdadeira Liberdade
E você, meu Brasil, tão sofrido,
Que sofre hoje pela covardia de tantos
Espero do fundo do meu coração que em alguns anos
Se veja livre de todos estes partidos.